Como foi minha experiência com o sistema de saúde cubano. Será que o que dizem da saúde em Cuba é tudo isso mesmo?

Inicialmente preciso dizer que entrei em Cuba já com uma intoxicação alimentar. Em uma viagem durante o mês de julho de 2019 fiz um stopover de três dias em Lima (Peru) e ali bebi água da torneira (nunca faça isso! Explico mais sobre consumo de água em viagens neste post). Na verdade sempre bebo água mineral em viagens, mas lembro de ter usado durante duas noites seguidas água da torneira pra fazer um chá. Coloquei no micro-ondas pra esquentar e achei que estaria bem, mas como a água não ferveu, acredito que tenha pego uma intoxicação ali.

De qualquer forma, segui viagem (sem sintomas graves) e cheguei em Bogotá (Colômbia) onde ficaria por 3 dias antes de seguir viagem até Cuba. Foram 3 dias com sintomas leves que foram se agravando. Achei que passaria com soro caseiro e com alguns medicamentos que comprei por indicação do farmacêutico em Bogotá. O problema é que a alimentação diferente fez com que a situação fosse se agravando.

Quando cheguei em Cuba a situação só piorou. Passeio o primeiro dia no hostel, ainda esperando que as coisas melhorassem. Porém chegou um momento, lá pelas 3h da madrugada, que eu não podia mais aguentar as fortes dores de barriga e febre alta, então decidi procurar um hospital.

Aqui começa minha experiência com o Sistema de Saúde Pública de Cuba

Primeiro é necessário que você saiba que o sistema de saúde cubano é eficiente porque é um sistema de saúde preventiva. Isso significa que há postos de saúde nos bairros e os médicos destes postos passam nas casas, conhecem os moradores e fazem políticas preventivas.  

Então o pessoal do Hostel me indicou onde ficava o posto mais próximo, a menos de duas quadras, e ali fui atendido prontamente por uma das médicas que estava de plantão (lembre-se que eram 3 horas da madrugada). Ela me ouviu, fez alguns exames básicos de toque, algumas perguntas, e receitou alguns antibióticos e soro. A médica me deu um punhado de pacotes de soro (tomei a maioria, mas fiz questão de guardar um de recordação :D).

Um dos pacotes de soro que recebi em Havana e trouxe de souvenir 😀

Os outros dois medicamentos, ela pediu que eu comprasse na farmácia ali próxima do posto. Eu já havia entrado em contato com o meu seguro viagem e eles haviam me instruído a registrar todos os custos para um reembolso posterior, então pedi o preço da consulta. Ela me disse que apesar de eu ser estrangeiro, o sistema era público e não haveria cobrança. Saí feliz e me dirigi à farmácia, imaginando quanto pagaria pelos remédios (isso porque vi que um deles era Dipirona e eu lembrava de ter comprado Dipirona em algum lugar da Europa, em outra viagem, e ter pago quase 25 euros!).

Receita médica recebida durante consulta em Havana.

Chegando lá, comprei os dois remédios por 17 CUPs, algo em torno de 0,70 centavos de euro!! E não eram genéricos não viu!!

Enfim, minha experiência com o sistema de saúde cubano foi muito satisfatória. Apesar de ser estrangeiro (e quem já passou mal na Europa sabe o quanto custa para ser atendido se você é estrangeiro!) fui atendido rapidamente às 3h da madrugada, não paguei nada e ainda comprei todos os remédios por 0,70 centavos de euro. Acabei nem acionando o seguro saúde.

Saúde em Cuba e envio de médicos ao exterior

Toda a estrutura educacional é Cuba é gratuita, isto não é novidade pra ninguém. O que poucos sabem é como isto funciona na prática. O que descobri conversando com algumas pessoas em Havana foi que tem vagas para todos os que quiserem fazer faculdade, também me foi dito que o governo faz algumas campanhas para incentivar a escolha de certas áreas que são estratégicas para o país, como é o caso da saúde.

Uma das entradas da Universidade Pública de Havana.

Também fiquei sabendo que os médicos formados precisam cumprir pelo menos 3 anos de serviço social voluntário depois de titulados, uma forma de retribuir o investimento público no ensino. É neste período que a maioria dos médicos cubanos acaba se voluntariando para ações médicas fora do país (como foi o caso do Mais Médicos, no Brasil e em outros 67 países).

Ao todo são mais de 30.000 médicos cubanos atuando em ações humanitárias em 67 países, a maioria na América Latina e na África, o que gera uma receita anual estimada em quase 10 bilhões de dólares para o governo cubano (uma vez que somente 10% a 25% do salário é pago ao médico, o restante é redirecionado para a ilha).

Quer visitar Cuba? Leia outros posts sobre a ilha:

O que saber antes de viajar para Cuba.
Hospedagem em Cuba: casa de cubanos, hostel ou resot.
Dinheiro em Cuba: duas moedas. o que levar (dólar ou euro) e quanto vai gastar por dia.
Como comprar um chip de internet em Cuba.
Como se locomover em Havana.

Escrito por

Joel Didone

Filósofo (PUCRS) e Cientista Social (UFRGS)
53 países visitados!!
Amante de viagens, gosto de fazer uma experiência autêntica do destino escolhido. Transporte público, conversa com os moradores locais, andar pelas cidades, observar.
Quero compartilhar contigo todas as minhas impressões e dicas de viagens.